CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE O DIAGNÓSTICO DE TDAH
Palavras-chave:
TDAH, Medicalização, PsicanáliseResumo
Durante a experiência da graduação em Psicologia, deparamo-nos com um número significativo de crianças e adolescentes que chegavam na clínica-escola com o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Devido ao alto índice de diagnósticos e o uso indiscriminado de psicofármacos, tornou-se necessário elaborar um estudo que abordasse a banalização do diagnóstico, a medicalização e as implicações que podem ocorrer na subjetividade, no comportamento e desenvolvimento de crianças e adolescentes que ainda estão em constituição psíquica. Em razão disto, o presente trabalho apresenta as principais considerações acerca do diagnóstico do TDAH, atrelando-as à perspectiva psicanalítica. Neste breve estudo, buscamos mostrar a importância de diferentes leituras acerca do que se passa em uma criança ou adolescente que apresenta o diagnóstico do TDAH, seja através da família, médico ou escola, para que seja feita uma resistência ao que insiste em enquadrar tais sujeitos ao seu aparato cerebral. Através da sua concepção de sujeito do inconsciente e corpo, a psicanálise pode auxiliar na inclusão daquilo que não possui uma ordem orgânica e cognitiva, mas que pode ser tratado por meio do simbólico. A psicanálise pode trabalhar no sentido de vermos o sujeito criança ou adolescente para além de um rótulo clínico.
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