Reflexões sobre o direito universal à anamnese clínica

Autores

  • Antonio Augusto Masson Universidade Estácio de Sá
  • Livia Conti Sampaio Universidade Estácio de Sá
  • Ana Carolina Silveira Mendes Cavadas Universidade Estácio de Sá

DOI:

https://doi.org/10.24119/16760867ed1141

Palavras-chave:

Anamnese, Atenção primária à saúde, Formação médica, Conscientização pública, Direito à anamnese

Resumo

[PT] Este ensaio tem como objetivo debater o papel atual da anamnese: ato médico criterioso, confidencial e individualizado para coleta da história clínica sob técnicas estabelecidas, investigando a doença atual, sinais e sintomas, passado patológico e os múltiplos aspectos psicossociais da vida de todo paciente. A despeito da sua origem milenar, ainda é reconhecida como ferramenta básica para forjar a relação médico-paciente e peça chave para se chegar ao diagnóstico correto em 73% dos casos. Quando a história clínica é acrescida aos dados do exame físico, o percentual de acerto eleva-se ainda mais, racionalizando o custo com exames complementares. Consequentemente, constitui o passo inicial para uma atenção primária à saúde de qualidade, além de reduzir o potencial do erro médico, favorecer a adesão do paciente às recomendações para a profilaxia e tratamento das doenças. Entretanto, a anamnese é negligenciada no atendimento médico no Brasil,  sobretudo no que concerne à redução do tempo dedicado a mesma. Ressalta-se, também, que conscientização e ativismo da sociedade para a questão poderiam preencher a lacuna normativa vigente sobre o assunto e, por consequência, aprimorar a legislação disponível, fortalecendo a cidadania.  Sugere-se ênfase na formação médica e intervenções esclarecedoras e motivadoras de modo que pacientes e familiares passem adotar maior protagonismo, "cobrando" uma anamnese completa. Este seria o primeiro passo para garantir a assistência mais humanizada, ética e de melhor qualidade. Conclui-se pela necessidade de manter vivo o debate sobre o tema no âmbito da educação em saúde. Nessa perspectiva, questiona-se até quando o pleno direito à anamnese no atendimento médico primário permanecerá como um desafio de saúde pública?

[EN] This essay aims to discuss the current  role  of  the  anamnesis:  a  ca-reful, confidential and individualized medical  procedure  for  the  collection  of  clinical  history  under  established  techniques,  investigating  the  current  disease,  signs  and  symptoms,  patho-logical past and the multiple psycho-social aspects of the life of every pa-tient. In spite of its millennial origin, it is still recognized as a basic tool to forge  the  doctor-patient  relationship  and a key part in arriving at the cor-rect  diagnosis  in  73%  of  the  cases.  When the clinical history is added to the data of the physical examination, the  percentage  of  correctness  rises  even more, rationalizing the cost with complementary  examinations.  Con-sequently, it is the initial step towards quality  of  primary  health  care,  in  addition  to  reducing  the  potential  of  medical error, favoring patient adhe-rence  to  recommendations  for  the  prophylaxis  and  treatment  of  disea-ses. However, anamnesis is neglected in  medical  care  in  Brazil,  especially  regarding  the  reduction  of  the  time  dedicated  to  it.  It  is  also  worth  no-ting that the society’s awareness and activism  on  the  issue  could  fill  the normative gap in force on the subject and, consequently, improve available legislation, strengthening citizenship. Emphasis  is  placed  on  medical  trai-ning and enlightening and motivating interventions   so   that   patients   and   families  may  adopt  a  greater  role,  “charging” for a full anamnesis. This would be the first step towards ensu-ring  the  most  humane,  ethical  and  quality  assistance.  It  is  concluded  that there is a need to keep the debate on health education alive. From this perspective, the question is raised as to when the full right to anamnesis in primary  medical  care  will  remain  a  public health challenge?

[ES] Este  ensayo  pretende  analizar  el  papel  de  la  historia  actual:  acto  médico  discernidor,  confidencial  e individualizado para recoger la histo-ria clínica bajo técnicas establecidas, investigando  la  enfermedad  actual,  signos y síntomas, pasado patológico y  múltiples  aspectos  psicosociales  de  la  vida  de  cada  paciente.  A  pesar  de  su origen antiguo, todavía se recono-ce como una herramienta básica para forjar  una  relación  médico-paciente  y  el  clave  para  llegar  al  diagnósti-co  correcto  en  el  73%  de  los  casos.  Cuando  se  añade  la  historia  clínica  para  el  examen  físico,  el  porcentaje  de  éxito  se  eleva  aún  más,  raciona-lizando  los  costes  con  los  exámenes  adicionales.  En  consecuencia,  es  el  primer  paso  hacia  una  atención  pri-maria de salud de calidad y reducir el potencial de errores médicos, promo-ver  la  adherencia  del  paciente  a  las  recomendaciones para la profilaxis y el  tratamiento  de  enfermedades.  Sin  embargo,  la  historia  se  descuida  de  la  atención  médica  en  Brasil,  espe-cialmente con respecto a la reducción del tiempo dedicado a ella. Es de des-tacar  también  que  la  conciencia  y  el  activismo de la sociedad a la pregunta podría  llenar  el  vacío  legal  existente  en la materia y, en consecuencia, me-jorar la legislación vigente, el fortale-cimiento de la ciudadanía. Se sugiere énfasis  en  la  formación  médica  y  las  intervenciones  instructivas  y  de  mo-tivación  para  que  los  pacientes  y  sus  familias adopten un papel importante, cargando una historia completa. Este sería  el  primer  paso  para  garantizar  una atención más humanizada, ética y con mejor calidad. La conclusión es la necesidad  de  mantener  vivo  el  deba-te  sobre  el  tema  en  el  contexto  de  la  educación para la salud. En esta pers-pectiva, la pregunta es ¿Hasta cuándo la anamnesis completa en la atención primaria  de  salud  seguirá  siendo  un  problema de salud pública?

 

 

Biografia do Autor

Antonio Augusto Masson, Universidade Estácio de Sá

Professor da Universidade Estácio de Sá (UNESA) - Disciplinas de Propedêutica e Fisiopatologia Médicas - Campus Arcos da Lapa - Rio de Janeiro, Brasil. Formado pela UERJ, onde fez Residência. Experiência na área de Medicina Geral, com ênfase em Cardiologia, HIV/AIDS e Terapia Intensiva. MBA em Gestão de Saúde pela UFF. Fisiologista e Instrutor Clínico pela School of Aerospace Medicine - Brooks - Texas - U.S.A. Proficiência em inglês pelas Universidades de Cambridge U.K. e Michigan U.S.A.

Livia Conti Sampaio, Universidade Estácio de Sá

Graduanada em Medicina pela Universidade Estácio de Sá. Possui ensino-medio-segundo-graupelo Colégio Salesiano Santa Rosa(2009). 

Ana Carolina Silveira Mendes Cavadas, Universidade Estácio de Sá

Graduando em Medicina pela Universidade Estácio de Sá em andamento. Atualmente é estagiário - Clínica Delphi. e encontra-se na direção da Liga de Semiologia Médica UNESA como Diretor Geral. Tem interesse na área de Clínica Geral, Oncologia Clínica

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Publicado

08-06-2018

Como Citar

Masson, A. A., Sampaio, L. C., & Cavadas, A. C. S. M. (2018). Reflexões sobre o direito universal à anamnese clínica. Revista Dissertar, 1(28 e 29), 11–18. https://doi.org/10.24119/16760867ed1141